Feito um barco à deriva, sinto-me vagando entre dois tempos. De um lado, os ligeiros ponteiros da biologia me dizem que o difícil adeus se aproxima. Do outro, os emperrados ponteiros da justiça dilatam e intensificam minha angustia... Mas ainda me resta uma esperança: os velozes ponteiros das redes sociais. É sempre assim: nos momentos mais críticos, é o povo que acode o próprio povo – eterna reciprocidade dos iguais...
(por Silvio Pélico)
Desfalecida, percebo que as carícias dos voos das gaivotas deram lugar a duras facadas em meu frágil ventre. Usada e abusada até as entranhas, sangro... A doce refração azul se transformou num pesado nevoeiro cinza. Em vez de mar, meus pés se afundam em grossa lama.
Antes, daquele cristalino céu noturno, a reluzente estrela d'alva embalava meus sonhos. Agora, num escuro e desfocado céu, só o que flutua é uma abjeta estrela avermelhada: fábrica incessante de misérias e pesadelos.
Manhã
de abril. Feito um véu alaranjado, a luz do outono descia sobre o pátio da
escola. E ali estávamos, perfilados. Era sempre a primeira atividade do dia,
momento em que o diretor nos pedia para cantar o hino nacional — doce pedido. Em
seguida o diretor, um brilhante professor de História, fazia um breve discurso: quase sempre ligado à Educação Moral e Cívica...
(por Silvio Pélico)